quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Você acha que sabe tudo sobre sexo oral feminino, né? Errado

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Você acha que sabe tudo sobre sexo oral feminino, né? A Sasha Grey te ensinou tudo que precisa sobre mulheres na cama, certo? Basta ligar a língua no modo giratório ou no estilo gato-lambe-pires que tá tudo resolvido. Errado, bunda mole! O buraco é mais embaixo!
As redes sociais e matérias de portais vêm jorrando textos sobre a falta de boas e bem feitas chupadas em vulvas deste Brasil. Há matérias com pesquisas e dados que refletem a desatenção masculina quando o assunto é ralar as orelhas nas coxas das moças. Os motivos? Cheiro, estranhamento com o aspecto, aparência, pelos e razões que lembram quando tínhamos quatro anos e nos recusávamos a ingerir vagem por pura manha, infantilidade e frescura.

clit_3Todas as imagens com painéis de vaginas são esculturas do artista Jamie McCartney, autor da série Genital Casts

Ciente da inabilidade existente em proporcionar prazer genuíno com a boca, a língua e dedos para as mulheres, o curso (com vagas abertas para novembro deste ano) “Sexo Oral e Masturbação Feminina para Homens” procura distribuir felicidade coletiva ao ensinar os caras a representar com outras partes do corpo. Isto é quase como aquele tópico “missão da empresa” para o pessoal que aplica a terceira edição do workshop em São Paulo.

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O negócio é o seguinte: sim, o curso de quatro horas de duração reúne 15 homens, que arcam com R$ 650, por turma dispostos a aprenderem ou a aprimorarem a maneira como se relacionam diretamente com vaginas. E mais 15 mulheres voluntárias a fim de deixarem essas pessoas chegarem lá.

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Deve soar bem bizarro a ideia de uma sala com vários caras investigando xoxotas a fim de sanarem dúvidas sobre como servir de tobogã para o orgasmo das futuras parceiras. Acho que o cenário piora se soubermos que há um flanelinha dando orientação, quase didaticamente, de como proceder.

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Quem ler este texto deve pensar que o curso deve atrair um monte de tarados, além dos itens descritos no parágrafo acima, mas os ministradores garantem que o contexto da iniciativa não é erótico, nem para realizar fantasias, muito menos para turbinar sua performance de ator pornô amador.

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O propósito é nobre: trocar figurinhas durante franca conversa sobre sexo, frisar a crucialidade da interatividade e o respeito por meio da igualdade em cima das molas rangentes da cama.

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Porque a verdade é essa aqui: querendo você ou não - não importa se sua mente acredita no paranoico levante feminazi para dominar o mundo nos moldes de uma ditadura da poliandria matriarcal - as mulheres vivem sob espécie de regime falocêntrico. Os filmes adultos são todos caricatos e com privilégios apenas masculinos. Não fosse o bastante, a cultura machista impõe postura submissa às mulheres inclusive na hora de transar, pois são vistas como caixas eletrônicos para saques de gozadas em que é comum não haver reciprocidade.

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Quem não mudar que se cuide porque parceiras passivas, adestradas, pudicas, comportadas e beatas, como quando só se dava pelo furo pelo lençol no escuro, estão virando coisa do passado e o comportamento sexual urge por mudanças.
Se fosse mentira, preste atenção!, não haveria mais de 100 mulheres na lista de espera para serem voluntárias no curso. Elas não recebem um centavo pela participação, porém superam o número de caras que ficaram de fora por falta de vagas. Sinal dos tempos? Pode crer.
Tem mais. Não se superestime, ninguém é o máximo no ringue de foda porque cada mulher é única em gostos, preferências e características sexuais. Nem por isso todos os caras necessariamente precisam de cursos para fazer algo que com um pouco de diálogo e compreensão chega-se lá.
Conversamos então com a dupla que aplica o curso em local divulgado apenas para os alunos, assim as identidades são preservadas.

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Caio Luiz – O que os gabarita para ensinarem algo tão particular?
Cauê Procópio (idealizador) – Tenho formação em cinema e música, mas fiz vários cursos sobre sexo tântrico, entre outros. Como sempre ouvi das minhas parceiras que homens precisavam de um curso para dar prazer, pesquisei e descobri que havia um curso na Rússia, mas voltado para mulheres. Então consultei sexólogos, advogados, ginecologistas e demais especialistas para compor a parte teórica e prática. Isto levou um ano.
Isabelle Moura – Tenho um pós em psicologia da sexualidade e sou formada em psicanálise. Também sou instrutora de tantra e terapeuta de desenvolvimento sexual e afetivo.

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Caio Luiz – Qual é a base de fundamentos do curso?
Cauê Procópio e Isabelle Moura – Fizemos o curso subdividido em quatro etapas:

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Higiene - detalhes sobre como se manter limpa para evitar qualquer odor desagradável. Como sexo ainda é tabu até a parte dos cuidados fica prejudicada. Corrimentos, infecções são fáceis de prevenir e contribuem para melhor desempenho sexual.
Anatomia - uma vez que poucas pessoas conhecem as terminações nervosas do clitóris e só conhecem o mínimo por meio de livros de escola, que no fim só abordam reprodução e DSTs, estes acabam mais traumatizando do que ajudando. Falamos sobre ponto G, vivência sexual, orgasmo pelo clitóris e etc. com explanações biológicas.

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Comportamento social - como terapeuta, vejo que as pessoas aprendem sexo como curiosos e na prática. O próprio meio médico transmite pouca informação. As mulheres não são incentivadas a se masturbarem, a se entenderem. A curiosidade faz com que as pessoas entrem na vida sexual, mas sem preparo e com o imaginário poluído pelo universo pornô.
Prática - sempre conversamos para evitar constrangimentos. Elas sempre escolhem quem fará sexo oral nelas, pois fazemos sempre em pares. No entanto, há voluntárias e homens que desistem na hora e não há problema. Depois do exercício, feito em tatames e simultaneamente pelos casais, discutimos e refletimos sobre o ato.

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Caio Luiz - Como convencem os caras que alegam que cheiro e aparência incomodam?
Cauê Procópio - O curso é para homens que amam as mulheres. Muitas delas, instruídas, sequer gozaram na vida. Queremos mostrar que elas importam e precisam ser atingidas, mas que precisam ensinar os companheiros. Agora, quem tem esse tipo de problema, nem vem ao curso. Não ouvimos esse tipo de reclamação.

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Caio Luiz - Como ensinar sexo oral se cada pessoa tem gostos específicos e jeito único de curtir felação?
Cauê Procópio - Há poucos espaços para dialogar sobre sexo. Cada mulher é uma e sente sexo de modo diferente. Velocidade, intensidade e tato vêm com comunicação e reconhecimento porque é um processo de descoberta. A aula é como despertar e enxergar esse processo como um caminho.
Isabelle Moura - Noto que há um script, um roteiro de sexo. Até os mais experimentados costumam: beijar, aí os beijos esquentam, começam a se apalpar e depois se chupam para terminar em determinadas posições de penetração. Ganhar percepção do outro não tem a ver com a homogeneização da indústria pornô. Muitas poses, orgasmos falsos e etc. Nada disso adianta se ainda há mulheres que sentem vergonha de receberem sexo oral. Sexo é natural, bonito e uma brincadeira a dois carente de diálogo. É isso que mostramos exatamente para ressaltar que só assim é possível se aproximar de alguém.

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Caio Luiz - Acredito que muitas pessoas enxergam sexo oral como ato de submissão.
Isabelle Moura - Muitas pessoas encaram sexo como jogo de poder. Chupar pode ser visto como prêmio, favor, mas a verdade é que é preciso se lambuzar. Se não é como comer uma manga com garfo e faca.
Cauê Procópio - Visão dialética é chave no curso. A opressão masculina criou falhas sexuais porque o homem cresceu como conquistador e provedor que rege o ato sexual, mas os tempos mudam e as mulheres têm os mesmos direitos que os homens. Em todos os aspectos.

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